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Um dos gastos que mais pesa no orçamento das famílias brasileiras é com planos de saúde. Para os idosos, o valor do convênio pode ultrapassar facilmente um terço ou mesmo metade da renda com aposentadoria.

Mas apesar de todo esse dinheiro, a maioria das pessoas acredita que paga muito para receber pouco. Uma reclamação clássica é a de pagar a vida toda, e quando mais precisa, o plano impõe dificuldades ou nega a prestação de um exame ou procedimento necessário (e às vezes urgente). Mas o que faz dos planos de saúde tão caros?

 

O aumento da complexidade faz aumentar os custos em saúde

 

A primeira razão para o encarecimento dos cuidados em saúde é que há cada vez mais tecnologia agregada em praticamente todas as áreas. Afinal, o aumento da longevidade e controle das doenças não vem de graça.

Um exemplo disto é o tratamento do câncer: há 50 anos a quimioterapia consistia essencialmente em injetar substâncias tóxicas às células em replicação. Como as células cancerígenas se replicam mais frequentemente que as demais células do corpo, elas acabavam sendo o alvo preferencial. Obviamente, havia muitos efeitos colaterais, e o tratamento era mais ou menos indiferenciado todas as pessoas.

De lá para cá, não apenas os quimioterápicos foram aperfeiçoados, como houve o surgimento de terapias específicas para cada tipo molecular de tumor, o que melhora muito a eficiência do tratamento com menos efeitos colaterais. Tudo isso exige muito dinheiro em pesquisa, desenvolvimento e testagem, e parte desses custos são repassados aos usuários.

 

Livre acesso a especialistas e doctor shopping

 

Na maioria dos convênios de saúde do Brasil, é possível ao usuário agendar diretamente com especialistas, de maneira livre. Se a pessoa quiser marcar com um cardiologista, gastro, neuro e dermato na mesma semana, é possível, mesmo que todos os problemas de saúde dela pudessem ser resolvidos por um clínico geral. Pode parecer normal, mas em países com sistema de saúde universal mais desenvolvidos o paciente é primeiro atendido por um generalista, que encaminha a um especialista, se necessário.

Além disso, é bastante frequente que os pacientes (influenciados por propaganda ou relatos de amigos e parentes) pressionem os médicos por exames ou procedimentos, mesmo que não haja indicação. E muitas vezes o médico cede, impondo um custo desnecessário ao convênio, que será repassado a todos os usuários.

 

Cuidados paliativos como um tabu

 

Estudos de economia da saúde mostram que uma parcela significativa (variando de 10 a 25%) de todos os gastos de saúde ao longo da vida de uma pessoa são utilizados em seu último ano de vida.

Boa parte disso decorre de reinternações frequentes, uso de leitos de terapia intensiva e suporte de vida (hemodiálise, ventilação mecânica, etc).

Uma parte desses gastos poderia ser evitada com um bom trabalho de cuidados paliativos. Paliação não se trata de abandonar o paciente: uma pessoa em estágio final da vida precisa e deve receber assistência, medicações e procedimentos que se façam necessários, mas o tipo de cuidado (e o custo deste cuidado) é bastante diferente daquele necessário a alguém com uma doença aguda reversível.

Muitas famílias, porém, por desconhecerem o conceito de paliação, ou por o confundirem com abandono,  acreditam que o melhor a fazer no fim de vida de seu ente querido é submetê-lo a internação em CTI, onde muitas vezes ele ficará sozinho, sedado, sem nenhum tipo de comunicação e dependente de ventilador mecânico e alimentação através de tubos. Tudo isso custa caro, e – advinhem? – mais uma vez, o custo é repassado a todos que pagam aquele plano.

 

Os 3 tópicos citados não esgotam o assunto, mas dão uma noção inicial do porquê o preço dos planos tende a subir.